Mesa-Redonda A
9 de outubro de 2017, das 14h às 15h30min
Local: ILEA
Local: ILEA
Literaturas Insulares
Vitoru Kinjo (SAMAUMA Residência Artística Rural)
Luciana Wrege Rassier (UFSC)
Andrei Cunha (UFRGS)
E no clarão, entreviam
a ilha atirada à distância.
Sim, já não era a
baleeira que se movia, era a ilha, sacudida com furor.
(MIGUEL, 2004, p.22)
A
vida nas ilhas marca a literatura dos que nelas escrevem? E dos que sonham com
elas? Seria um pouco ocioso tentar descobrir, numa indagação
pseudoantropológica, à la Montesquieu, se existe algo a ser definido como
"literatura insular" (numa época em que nem "literatura" já
tem definição extrapolável). A insula latina, origem de nossa palavra
"isolamento", aponta para a ideia de exílio e solidão. O caractere
sino-japonês para ilha, 島, shima,
com toda a sonoridade pesada que associamos a Hiroxima, é também uma
combinação visual dos símbolos de pássaro e de montanha, remetendo ao idílico e
ao idealizado. A ilha ressurge em diferentes vagas, tsunamis e marés da literatura
de todos os lugares: como tema, como fantasia, como metáfora, como destino.
Derek Walcott foi capaz de enxergar no Caribe a saga de Ulisses, e essa visão,
assim como ele a compôs, parece quase inevitável. A ilha pode ser o lugar da
opressão e do silenciamento, como ocorre inúmeras vezes na história de Okinawa;
pode ser também a força que move a prosa e a imaginação da liberdade, como na
obra de Salim Miguel. Ela pode igualmente ser metáfora da nação, como em
Shakespeare e em praticamente toda a literatura japonesa. Por sua vez, o
arquipélago, carrefour de culturas, constelação de além-mares, é também
um modelo importante para a ideia mesma de uma Weltliteratur.
Cordão
que flutua no mar: literatura okinawana, insurgências poéticas e transculturais
Vitoru
Kinjo é cantor, compositor e pesquisador. Doutor em Ciências Sociais e mestre
em sociologia pela UNICAMP, é bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP e em
Ciências Econômicas pela USP. Como parte de sua tese de doutorado, Cantos da
Memória Diaspórica, co-criou a performance NOMES, apresentada em
centros culturais da Europa e do Brasil. Lançou, pelo selo Matraca Records/YB
Music, seu primeiro disco autoral, KINJO (2017), e realizou show de
pré-lançamento no VI Worldwide Uchinanchu Festival, em Okinawa, no Japão.
Fundador da SAMAUMA Residência Artística Rural, espaço de ensino, pesquisa e
criação artística localizado em meio à Mata Atlântica, no município de Mogi das
Cruzes, no estado de São Paulo, realiza projetos transdisciplinares entre as
artes performativas, os estudos culturais e o pensamento ecológico.
Os
Arquipélagos da memória de Salim Miguel
Luciana
Rassier é professora no departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (Curso
de Francês) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 2010. Orienta
trabalhos de Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos da
Tradução (PPG-UFSC). De 1994 a 2010, lecionou literatura brasileira nas
universidades francesas de Montpellier e de La Rochelle. Desenvolve pesquisa
sobre alteridades e transculturalismo a partir de obras literárias e
cinematográficas contemporâneas. Tem pós-doutorado em Literatura e
Memória em contextos Multi e Transculturais (UFRGS, 2015) e pós-doutorado em
Literatura comparada e Tradução (Université Rennes 2, França, 2015-2016). Com
Jean-José Mesguen, traduziu para o francês Péquod, de Vitor Ramil, e Primeiro
de abril: narrativas da cadeia, de Salim Miguel, publicados pela editora
parisiense L'Harmattan em 2003 e 2007, respectivamente. Também traduziu para o
francês legendas de filmes de longa e curta-metragem produzidos no estado de
Santa Catarina.
Insula,
constelação, carrefour — literaturas e arquipélagos
Andrei
Cunha é professor de língua e literatura japonesa no curso Bacharelado Tradutor
Japonês-Português da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua
como tradutor público e intérprete comercial de japonês, francês e inglês pela
Junta Comercial do Rio Grande do Sul (JUCERGS). Traduziu Histórias da Outra
Margem, de Nagai Kafû (2013) e coordenou a equipe que traduziu A Gata,
um homem e duas mulheres, de Jun'ichirô Tanizaki (2016), ambos pela Estação
Liberdade. Possui doutorado em Literatura Comparada pelo PPG-Letras da UFRGS,
com a tese Questões de tradução e adaptação em O Livro de Travesseiro
(2016); mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de
Hitotsubashi (Tóquio, 2000) e graduação em Direito Internacional Público pela
mesma universidade japonesa (1999).
Mesa-Redonda B
10 de outubro de 2017, das 11h30min às 13h
Local: ILEA
Local: ILEA
Entre o cárcere e a liberdade: ambiguidades dos espaços de isolamento
Tiago Guilherme Pinheiro (UNICAMP)
Eduardo Sterzi (UNICAMP)
Denise Regina de Sales (UFRGS)
A
ilha figura uma imagem ambivalente: a esse lugar paradisíaco, onde seus habitantes
usufruem de um estado edênico e soberano, de um grau zero da sociedade,
sobrepõe-se o limite geográfico e mental, gerando confinamento e solidão, no
qual a vida parece relegada a uma espécie de limbo. Das prisões, dos locais de
isolamento, chegam relatos que consistem em espaço concreto de contato entre o
cárcere e a liberdade; das viagens e das navegações, surgem narrativas de
descoberta e exílio em que novos territórios, descritos como arquipélagos,
reinventam os contornos do mundo e da vida. Tais séries não se excluem, mas se
interpenetram num paradoxo robinsoniano que tem larga história mundial. A
literatura da testemunha e a literatura do observador unem ilhas de emancipação
e de repressão, separadas imaginaria e geograficamente, invadindo o continente
da normalidade. Pessoas de classes, origens e ideologias diversas, reunidas na
solidão, fisicamente apartadas de um ambiente no quais os contornos não são
visíveis, são impelidas a recriar seu mundo numa tentativa de estabelecer novos
laços. Esta mesa visa discutir essas difícil linha divisória entre liberdade e
confinamento que constituem o horizonte literário das ilhas.
A
prosa de Varlam Chalámov como espaço de contato entre a ilha de Kolimá e o
mundo
Denise
Sales é professora do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Doutora em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo.
Atua nas áreas de língua e literatura russas, tradução e terminologia. Traduziu
do russo para o português, entre outros, Minha vida e Três anos, de Anton
Tchékhov; A fraude e outras histórias, de Nikolai Leskov; e Contos de Kolimá,
de Varlam Chalámov. Este último foi finalista do prêmio Jabuti de Tradução em
2016.
Imagens
do Arquipélago Brasil: poética de uma terra em fragmentos
Tiago
Pinheiro é doutor pelo Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada
da Universidade de São Paulo, onde defendeu Literatura sob rasura: autonomia,
neutralização e democracia em J.M. Coetzee e Roberto Bolaño, que recebeu
menção honrosa do Prêmio Capes de Teses em 2016. Atualmente realiza na Unicamp
a pesquisa de pós-doutorado intitulada Reorganizando sentidos, ressignificando
órgãos: a fisiologia do poema na produção brasileira contemporânea.
A
ilha do passado e a ilha do futuro: cartografias do tempo latino-americano
Eduardo
Sterzi é professor de Teoria Literária no Instituto de Estudos da Linguagem da
UNICAMP. Graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (1994), com mestrado em Teoria da Literatura pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000) e doutorado em Teoria e
História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (2006). Tem
experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria da Literatura.